Com o surgimento do tablet Surface, a Microsoft mudou o seu posicionamento de “somos uma empresa que produz principalmente software que roda em qualquer tipo de dispositivo montado e construído por outras empresas” para algo mais próximo de “somos uma empresa que produz software, hardware, design, especificações, appstores, experiência fechada, apple blablablá whiskas sachê“.
O futuro é mobile, social, conectado, web 3.0, quem não fizer o próximo iPad está fadado ao fracasso, é o que repetem os especialistas da área. A próxima versão do Windows promete mudar completamente o paradigma de uso do sistema operacional e unificar a experiência de tablets, smartphones e desktops.
O Surface e as OEMs
Com o Surface, que vai rodar ambas as versões do Windows 8 (a serem lançados em outubro deste ano), a Microsoft está focando numa solução integrada de hardware e software. O que não é nada interessante para as “OEM”s, as montadoras e integradoras que compram o sistema da microsoft e o revendem como parte de seus computadores para o consumidor final.
A introdução do Surface no mercado sinaliza uma mudança de posicionamento por parte da Microsoft, que do dia para a noite passa de parceira a concorrente das OEMs, alterando uma postura já estabelecida há décadas. Empresas de “pequeno” porte — como Dell, HP, IBM, entre outras — foram pegas de surpresa e subitamente deixadas de fora do esquema tradicional do mercado de PCs, ou no mínimo saíram prejudicadas no processo.
De acordo com especialistas da área, a Microsoft teria lançado mão de acesso a informações privilegiadas de projetos e designs de dispositivos que as OEMs estariam projetando para o Windows 8 e usado essa vantagem para lançar o seu tablet, em uma jogada cuja ética se mostra bastante questionável.
Microsoft admite concorrência do Surface
A princípio, a posição oficial da Microsoft sobre o assunto era de recusa e negação conciliatória. De acordo com Steve Ballmer, CEO da empresa, o Surface representa apenas uma referência como conceito de design. “A importância dos milhares de parceiros com os quais contamos não irá diminuir”, declarou recentemente durante a Worldwide Partner Conference.
Entretanto, a própria Microsoft admite os riscos: em um relatório anual da companhia, a afirmação é de que o Surface “irá competir com dispositivos produzidos por parceiros OEM, o que pode afetar o seu comprometimento com a nossa plataforma”.
Críticas ao surface
Para garantir o sucesso do Surface, a Microsoft precisa competir em um território onde ela possui menos experiência e sucesso que sua principal rival. Terá que investir também em atrair desenvolvedores e estabelecer uma app store relevante o suficiente em um mercado onde as concorrentes já possuem uma enorme base de usuários. O seu histórico de investimentos em hardware conta com sucessos como o Xbox e o Kinetic mas também com fracassos como o Zune.
Para o vice-presidente regional da Acer, Oliver Ahrens, restam dúvidas quanto ao sucesso dessa nova postura. Ele critica a adoção de dois modelos diferentes de hardware, e a dependência das OEMs quando a Apple possui autonomia própria: no mercado de PCs, a Microsoft é “componente de um sistema. Um componente muito importante, mas ainda assim um componente entre vários”.
O Futuro da Microsoft com o Surface e Windows 8
Atualmente a Microsoft domina quase 90% do mercado mundial de sistemas operacionais. Uma competição com as OEMs pode alterar esse cenário. A partir de agora, as OEMs irão encarar a empresa como uma parceira e como uma competidora. O sucesso do Surface e do Windows 8 pode significar o perdas para as OEMs, o que no final das contas prejudica o próprio ecossistema do Windows 8, da Microsoft e do Surface.
Caso a Microsoft pretenda ser agressiva na política de preços do seu tablet, aumentando a competição, muitas OEMs já cogitam investir em dispositivos rodando Android. Outras opções são investir em nichos como o mercado gamer ou enterprise, já que frente ao surface as vantagens das OEMs se restringiriam principalmente a um possível preço mais baixo.
Fonte: AllThingsD e Slashdot.